Estava entardecendo e o Sol já estava a estreitar seus alaranjados raios entre os prédios e residências. Eu estava saindo de um edifício, segurando uma maleta na mão esquerda e meu celular na mão direita. Assim que o sinal fechou, atravessei a rua e segui adiante, focado em meu celular. Conversava com uma amiga minha através de um bate papo. Ela me contava sobre uma notícia que estava passando na TV no exato momento em que conversávamos. Parece que uma mulher matou o marido a mordidas. Aquilo foi cômico e arrancou-me uma leve risada, até que minha amiga completou dizendo que a mulher e a filha do casal foram baleadas pela polícia, ao tentarem atacar um dos guardas. Que loucura. Respondi ela e continuei andando distraído durante algumas quadras.
Um cachorro apareceu na minha frente arrastando a corrente do pescoço. Era um desses cachorros labradores que a gente vê com as crianças ou deficientes visuais. Deve ter fugido do dono, pensei. Observei-o passar por mim, e então me dei conta de algo: não haviam carros e nem pessoas circulando em lugar nenhum. Olhei pra trás novamente, o cão se distanciava, e tirando ele, nada mais se movia na rua em que eu estava. Eram quase 18 horas da tarde e o centro estava um deserto. Comentei isso com minha amiga e ela também achou incomum, acrescentando que iria dar uma olhada na rua da casa dela e não demorava. Quando cheguei na esquina, vi alguns carros estacionados desleixadamente. Não, era outra coisa; eles pareciam mais ter sido abandonados as pressas pelos motoristas. Isso me preocupou. Olhei para os lados e avistei algumas pessoas ao longe, isso me deixou mais tranquilo. Mas aquilo também era estranho. As pessoas, elas, estavam caminhando lentamente, mas muito lentamente mesmo, e de uma forma esquisita. Fiquei intrigado com a situação e comecei a caminhar na direção delas. Pensei ter escutado alguém gritando. De repente ouvi um enorme estrondo, um barulho de batida e explosão que ecoou em meio aos prédios, e em seguida vieram gritos, gritos de pânico. Eu me abaixei atrás da primeira coisa que me pareceu segura, tentando me proteger de seja lá o que tivesse acontecendo, e então vi quando um grande grupo de pessoas apareceu correndo. Havia, sangue nas roupas de algumas delas! Quando passaram por mim, tentaram me puxar, gritando pra eu correr, mas eu fiquei ali parado. Uma mulher passou chorando desesperada carregando uma menina no colo. Aquilo tudo me deixou zonzo; minha ficha ainda não havia caído e eu estava demorando pra processar aquele monte de sentimentos que invadiram minha mente ao mesmo tempo. Foi então eu os vi. Vi dezenas deles, ensanguentados correndo de forma desajeitada em minha direção. Eram zumbis, eram malditos zumbis! Minhas pernas não se moviam, meu corpo não respondia, eu não conseguia gritar. Foi quando um homem caiu e se espatifou na minha frente. Lentamente desviei meu olhar para cima e vi uma janela quebrada no terceiro andar do apartamento ao qual eu estava parado na frente. Voltei meu olhar para o homem, que estava agora se arrastando na minha direção, deixando um rastro ensanguentado pelo asfalto. Meu coração quase pulou pela boca, e ai sim eu corri, tão rápido quanto podia. Quando atingi a outra esquina o caos já estava se alastrando. Um carro desgovernado apareceu derrapando mais a frente. Ele bateu em um hidrante - fazendo água jorrar - e depois na parede de uma loja. O motorista voou pelo para brisas e ficou estirado em cima do capô, provavelmente morto. Minha mãos tremiam.
A medida que minha tontura passava, comecei a perceber muito barulho, muito grito. Corri em direção a uma loja qualquer destas com vidro escuro. Ela estava vazia. Me abaixei atrás de um balcão e fiquei espiando o que se passava lá fora. Alguns zumbis chegaram até a vitrine da loja. Eu podia vê-los, mas eles não podiam me ver. Então apenas observei aquele enorme grupo de zumbis famintos passar. Alguns deles passavam bem perto da vidraça. Apesar de não conseguirem me ver, acho que de alguma forma conseguiam sentir meu cheiro, pois alguns começaram a se debruçar no vidro e arranha-lo, mas não forte o suficiente pra quebrar. Parado ali dentro, eu não conseguia acreditar no que meus olhos viam. Eram malditos mortos vivos, walkers, errantes, ou seja lá como os chamavam nos programas de TV. Isso tudo estava realmente acontecendo? Essa pergunta martelou minha cabeça algumas vezes, e então eu fechava meus olhos com força, mas quando voltava a olhar, eles ainda estavam ali.
Sentei de costas pro balcão, esfregando meus braços, tentando pensar, mas no estado que eu tava, não dava nem pra raciocinar direito. De repente lembrei da minha amiga e peguei meu celular do bolso, tão desajeitadamente que quase o derrubei. Tirei o cabelo dos olhos e li as ultimas mensagens recebidas. Eram todas dela pedindo minha ajuda. Ela dizia que estava sozinha em casa, que a rua estava um caos e que haviam pessoas sangrando, tentando invadir sua casa. Eu a respondi, chamando-a no bate papo, mas ela não estava retornando. Minha bateria piscou, estava no vermelho, então mandei uma mensagem final, dizendo para que ela não saísse de casa. Eu iria busca-la o mais depressa possível.
Os zumbis próximos a vitrine estavam mais calmos. Alguns caíram no chão e ficaram estirados. Outros perambulavam de lá pra cá. Apenas um deles - um homem de terno e gravata com parte do rosto devorado - continuava batendo no vidro, tentando inutilmente atravessa-lo. A porta da frente não era uma opção, então eu saí pelos fundos. A casa da minha amiga ficava próxima a minha casa, e eu não morava longe. Abri a porta devagar, observando se havia alguma ''coisa'' passando por perto. Não havia, então saí. Os zumbis estavam se acumulando em apenas um dos lados da rua, isso facilitou minha vida. Me esgueirei pelos becos, pulando algumas cercas, sempre tomando cuidado pra não ser visto. Cheguei então na rua de baixo e senti um cheiro horrível de carne queimada. Haviam muitos carros acidentados, entre eles carros da brigada, com as sirenes ainda piscando. Alguns destes carros pegavam fogo, fazendo uma fumaça negra subir ao céu, e ao lado, um enorme grupo de zumbis se alimentava dos cadáveres de três policiais. O fogo de um dos carros em chamas se alastrou, conduzido pelo óleo que havia no chão, e estava agora consumindo parte da perna de um dos zumbis, mas este não sentia nada, apenas continuava enterrando os dentes nas entranhas daquele pobre policial. Ouvi alguns tiros e mais gritos. Um homem dobrou a esquina correndo e tropeçou ao ver grupo de zumbis que se alimentava. Dois deles levantaram e foram em sua direção, mas ele se recompôs e correu. Sai de onde estava abaixado e corri o mais rápido que pude até a esquina contrária. A luz do dia já estava desaparecendo e logo as coisas ficariam mais complicadas. Eu precisava me apressar!
Conto escrito por Otávio Augusto Hoeser.
Mande seu conto para contosdomedo@gmail.com.
Sabine d'Alincourt
22 comentários:
Pessoal, eu estou ciente de que zumbis tem se tornado um assunto clichê, devido a tantos filmes, jogos e programas de TV que usam e abusam da imagem dos pobres. Mas assim como os outros contos, este é um conto baseado em um pesadelo que eu tive, portanto - de certa forma -, ele é único. Espero que gostem. A PARTE 2 é um pouco maior e finaliza o conto. Eu estou a editando. Aguardo as críticas e comentários, afinal, são vocês que ajudam a nós escritores amadores a melhorar... hehe' Abraço.
Melhor que os livros do 'The Walking Dead', hehe (Y)
eu tive um sonho mais ou menos assim a pouco tempo, tentei escrever como uma historia mas não rolou, acho que devia ter escrito como vc, mas o mais louco é que meu sonho parece o inicio do seu, era tipo, o povo da minha escola estava em um laboratório e de repente começaram a aparecer zumbis, eu sabia que tinha de levar todo mundo pro ônibus que ficava a um tempo do laboratório, eu levei o pessoal por um jardim feito no estilo labirinto ate que tivemos que nos esconder em uma casinha de jardineiro,pegamos as coisas pra tentar sair de lá pro ônibus ( que estava perto mais nem tanto) só que eu tive que ficar pra tras pra ajudar os outros a sair, e usei um zumbi como escudo, e logo depois os militares tiraram eles de cima de mim, dizendo que eles conseguiram conter os zumbis mas muitos escaparam pra cidade. ai meu despertador tocou acabando com a festa. Esse é meu segundo sonho/pesadelo que me lembro com todos os detalhes e tão bem :3
Você escreve muito bem, Otávio! Devorei o conto rapidinho e já quero a segunda parte, amei. Já tive um sonho com zumbis - mais de um, para ser sincera - que me marcou muito, foi horrível, vi minha mãe e meu padrasto serem mortos e não foi uma coisa legal de se sonhar. Definitivamente se houvesse um apocalipse zumbi eu não seria uma das pessoas que sobrevivem, e sim aqueles figurantes que sempre morrem de primeira HEUEHEUHEU Enfim, amei o conto e quero sim a segunda parte.
Malditos despertadores. Deve ter sido uma frustraçao acordar de um pesadelo tão emocionante. Felizmente, esse que eu tive foi até o fim.
Muito obg. Ja sonhei com familiar meu sendo morto, é terrível mesmo. E eu tbm acho que não iria durar mto em um apocalipse zumbi... kkkkk' a não ser q a gente siga a risca as regras do Columbus ;p
Darko... kkkkkk' não exagere poxa... kkkkk' obg mesmo!
Sim foi, já o primeiro que tbm foi assustador eu acordei sozinha e morrendo de medo, meio que teve a ver com zumbis tbm, mas eu tava sendo perseguida por uma bruxa e ela meio que invocou eles XD
Muito bem escrito. Aguardo ansioso pelo final.
Parabéns!!
Você escreve muito bem! Muito bom o conto.... aguardo a parte 2
Nossa amei o conto! Já tive vários sonhos com apocalipse zumbi, alguns bem parecidos com esse, mas gostei de todos... Acho que o pior que eu tive foi um em que eu vi meu cachorro sendo devorado por 3 zumbis... Mas mesmo correndo esses riscos, eu amaria se houvesse um apocalipse zumbi! É meu maior sonho! ;P kkkk
Sonhos são malucos na maioria das vezes... akpskopas' o mais assustador que eu já tive foi com palhaços, mas faz muito tempo; eu nem havia começado a escrever ainda. Eu realmente detesto palhaços, e não acho o Cirque du Soleil um espetáculo :s
Sim sim a maneira que vc escreveu a historia é muito boa porem NA MINHA HUMILDE OPINIÃO um sonho nao é tao rico assim em detalhes, eu estudei um pouco sobre sonhos em psicologia e sonhos são acúmulos de memorias que sao repassadas d uma maneira desordenada, nao estou chamando o autor de mentiroso nem me auto entitulando um proficional mas eu só acreditaria em um sonho tão bem detalhado se oq aconteceu nesse sonho fosse parte do seu dia a dia, lembrando tb que sonhos duram no máximo 5 minutos. Concordem ou discordem para os interessados eu gostaria muito de mostrar parte dos meus estudos aqui no MedoB
Thiago, todos esses detalhes são invenções minhas. Eu escrevo contos baseado naquilo que eu sonho, só que como os sonhos são cortados e confusos, então seria difícil fazer os leitores compreende-los sem adicionar detalhes. Ficaria ruim de ler também. Mas a essência do meu pesadelo esta toda ai.
Sim Kim foi oq eu disse, sonhos costumam nao fazer sentido quase nunca, vc nao pode liga los a nada, agora q vc explicou faz sentido, vc fez uma sátira do seu sonho as coisas nao aconteceram assim tão bem detalhadas.
Isso mesmo, os pesadelos sao apenas uma ideia que eu recebo dormindo... kkkkk' depois eu coloco essa ideia em pratica.
Muito bom.Espero parte 2
Adorei ^^ espero a parte 2 o mais rápido possível ^^
Que bom que gostaram. A Parte 2 esta muito mais rica e esta maior. Se.acabar ficando muito grande acho que irei dividir em mais uma parte... kkkk' mas acho que não sera necessario.
As pessoas hoje em dia são tão covardes que precisam sonhar com um apocalipse zumbi, pois precisam que o ambiente e as circunstâncias criem as mudanças em sua vida... mudanças essas que não têm coragem de fazer por si mesmas.
Ja enviei a PARTE 2 pro MEDO B. Creio que logo eles postarão.
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