Kevin segurou com firmeza a faca de cozinha que havia pego logo após entrar correndo e trancar a porta. Ele ficou imóvel e em silêncio, tentando ouvir. Os sons estranhos começaram a vir do telhado também; pequenos e rápidos passos que iam e voltavam. Kevin estava tenso e iluminava o teto da sala tentando acompanhar a direção dos passos. Seus dentes estavam apertados e o suor escorria-lhe sem parar da testa e exilas.
Por alguns segundos os sons acabaram, então do nada um estouro de vidro de janela quebrando invadiu a casa. Kevin levou um susto e apontou a lanterna na direção das escadas, ''O som veio la de cima.'' Ele foi até os degraus e começou a subir devagar, um por um, até chegar no corredor dos quartos. Engoliu em seco e girou a maçaneta que levava até seu quarto. Estava vazio, da mesma forma como o havia deixado. A janela estava fechada. Ele tornou a fechar a porta, virou-se e foi até o quarto de sua mãe; a porta estava entre aberta e ele viu que as cortinas brancas da janela estavam sendo sopradas pela brisa do lado de fora.
Com a lanterna, constatou que o vidro e o molde de madeira estavam quebrados.
Procurou pelo invasor em todos os cantos, mas não encontrou nada. Kevin deu alguns passos para trás, e então começou a sentir-se observado novamente. Parado no corredor, encarou a escuridão por uns instantes; algo não estava certo. Forçou a visão; a porta do seu quarto, ela havia desapare... cido.
Assim que percebeu isto, três pequenos pontos vermelhos brotaram a sua frente e uma espécie de ronco agudo quebrou o silêncio. Kevin apontou a lanterna e a luz travou em uma névoa negra que descia pela parede, soltando gritos de fúria. O coração de Kevin disparou e ele caiu para trás. O barulho de pequenos passos começou a percorrer rapidamente o assoalho de madeira, até chocar-se contra a parede. Aquela coisa, aquela nuvem negra parecia incomodada por alguma coisa. Kevin tentava a iluminar, ''Iluminar... espera, é isso que esta a incomodando, a luz da lanterna!''
Assim que percebeu, ele levantou e cautelosamente foi se aproximando, forçando a criatura a espremer-se em um canto ao lado da porta de seu quarto, possibilitando a passagem. Kevin passou bem próximo a ela, e pensou ter visto dentes/garras. Desceu os degraus com cautela, sem nunca tirar o foco da luz de cima da criatura, que continuava berrando e arranhava a parede. Barulhos intensos começaram a surgir pelo telhado da casa. Os gritos da criatura devem ter deixado as outras agitadas. Um estouro de vidro veio da cozinha, provavelmente da janela. Kevin apressou-se, a cozinha ficava ao lado da escada e ele acabaria encurralado.
Ao descer o último degrau, levou um segundo para pensar oque fazer a seguir, então virou-se e correu até a porta que levava pra rua. Não sabia se essa era a melhor decisão, mas não havia tempo para pensar; a janela da sala estourou também e alguma coisa a invadiu; Kevin teve uma rápida visão de três pontos vermelhos surgindo ao lado da televisão - provavelmente os olhos dessas malditas criaturas - e então saiu, deixando a porta escancarada. Ele poderia morrer na rua, mas certamente também morreria se não tivesse saído.
Ao chegar na esquina, virou a direita e continuou correndo, passando por várias casas totalmente escuras. ''Onde estão as pessoas? Será que estão mortas? Mãe, por favor... por favor meu Deus, que ela esteja viva.'' Seus olhos lacrimejaram ao imaginar a mãe morta. ''Que ela não termine como aquela mulher, por favor, por favor.'' Suas mãos tremiam e sua respiração estava pesada. Kevin olhava para trás o tempo todo para certificar-se de que não estava sendo perseguido, mas era tão inutil quanto caminhar de olhos vendados; a luz da lanterna estava no foco máximo e mesmo assim mal iluminava o asfalto a sua frente; era como se uma fina névoa estivesse no ar, como uma neblina, só que negra. - A luz, a luz é o ponto fraco delas! Eu tenho uma chance agora. Melhor me apressar e ir até a delegacia; lá com certeza eu vou encontrar abrigo!
Conto escrito por Otávio Augusto Hoeser.
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Sabine d'Alincourt