13 de março de 2014

DIA Z PARTE 4

Jéssica acordou apavorada e debatendo-se, como se ainda estivesse lutando para se livrar dos zumbis que a derrubaram.

- Hey, hey, esta tudo bem agora, acalme-se! - disse um homem que estava sentado ao lado dela. Era um policial e aparentava ter algo em torno de quarenta e poucos anos. - Onde eu estou? Quem é você? - ela estava muito agitada, enjoada, e não conseguia pensar direito. Seria efeito do vírus? Ela tentou levantar-se, mas não conseguiu, seu braço esquerdo doía muito e estava enfaixado. - Você deslocou o ombro e nós tivemos que coloca-lo no lugar... e, você... você foi mordida. - disse o policial, um pouco exitante. - O que? Não...! - ela olhou-o com medo. - Esta tudo bem, nós não vamos fazer nada, fique tranquila.


Mais dois homens aproximaram-se, um rapaz e um velho com expressão carrancuda, de vinte e poucos anos e cinquenta e poucos anos, respectivamente. O velho foi o primeiro a falar:

- Nós não deveríamos arriscar, deveríamos mata-la...

O policial o interrompeu.


- Ninguém irá fazer nada, ela já foi mordida a mais de cinco horas e ainda não virou uma daquelas coisas. - Eu concordo com ele. - disse o rapaz. - Você concorda? Vocês dois estão malucos! - Eu já vi acontecer - interviu o policial -, já vi acontecer mais de uma vez, e em todas as vezes, a pessoa infectada desmaiou, teve febre, convulsão, e transformou-se em menos de uma hora. Como eu disse, já se passaram mais de cinco horas e ela ainda esta bem.
- Eu ainda acho arriscado deixar ela viva... você poderia pelo menos algema-la. Nada pessoal menina.

Jéssica não lhe deu ouvidos, estava mais assustada com o fato de ter sido mordida e com o tempo que passara desmaiada.

- Cinco horas!? Eu apaguei todo esse tem... !? ''...!!!...'' - ela tapou a boca, virou-se de lado e vomitou aquela mesma gosma amarela e sangrenta que havia vomitado na farmácia.

O policial aproximou-se e colocou a mão em sua testa.

- Você esta vomitando sangue, nunca vi nada igual; mas você não esta febril. Você sente alguma coisa? - Só tontura e enjoo, e dor no braço. - É, a queda foi bem feia, você tem muita muita sorte de estar viva, seu anjo é bem forte. E aquele zumbi também te pegou de jeito ai. - disse o policial. - É verdade, eu me lembro agora... - ela passou a mão na cabeça e percebeu que havia um curativo em sua testa. - Agradeço-lhes pela ajuda. - disse, erguendo-se e sentando. - Tudo bem, nós lhe devíamos. - antecipou-se o rapaz, aproximando-se um pouco mais. - Eu me chamo David e esse velho rabugento aqui é o meu tio Elias; não se preocupe com ele, ele é assim mesmo. - Você pode me chamar de Franco. - disse o policial.

Jéssica apresentou-se também, já se sentia um pouco melhor. A dor ''interna'' e a queimação que antes sentia em todo corpo estava passando, mas os ferimentos da testa e do braço ainda doíam, o do braço principalmente.

- E onde esta o outro policial? Aquele estava ferido... Ele esta bem?

Franco mudou sua expressão e ficou sério.

- Ele não resistiu. Nós o deitamos e estancamos o sangramento o máximo possível, mas a bala entrou e saiu por trás da coxa; ele perdeu sangue demais, desmaiou e acabou morrendo. - Eu sinto muito. Ele era seu amigo? - Ele era meu parceiro, e sim era meu amigo. Chamava-se Russel. - Você não nos falou quem atirou nele. Como foi que aconteceu? - perguntou o rapaz, David. - Foi muito rápido. Naquela confusão toda, nosso carro se acidentou, um companheiro nosso acabou morrendo no acidente, e quando conseguimos sair, demos de cara com dois sujeitos suspeitos que começaram a nos alvejar. Eles usavam uma máscara de gás e carregavam uma maleta consigo. Nós trocamos tiros, Russel acabou matando um deles, mas foi atingido na coxa pelo outro que fugiu e entrou em uma loja, acho que era uma farmácia, ou coisa assim, não consegui ver direito.

Jéssica inclinou-se para frente, segurando a beirada do sofá, como se fosse levantar.

- Você disse que ele entrou em uma farmácia!? E esses homens, como eles eram exatamente!? Você não chegou a ver oque tinha na maleta!?

Franco olhou-a um pouco surpreso ao notar o interesse.

- E-eles estavam vestidos com roupa especial e usavam máscaras de gás que cobriam-lhes o rosto todo. Eu não sei oque tinha na maleta, mas o outro cara quase morreu tentando pega-la de volta, então o conteúdo deve ser importante... - Talvez seja dinheiro. - disse Elias. - De volta!? Eles a perderam!? - Jéssica duvidava que fosse dinheiro. - Eles a derrubaram no caminho. O sujeito que a carregava é o sujeito que Russel matou.

Jéssica ficou em silêncio por alguns instantes e então tornou a falar.

- Eu irei lhes contar uma coisa, por favor escutem com atenção...

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Quando terminou, os homens estavam com expressões chocadas - até mesmo o velho Elias que havia se afastado um pouco, mudara sua expressão séria e carrancuda e agora olhava-a com olhos incrédulos.

- Você tem certeza que não bateu a cabeça muito forte, garota? - disse Elias.

Jéssica apenas olhou-o.

- É a verdade. Existem vacinas contra esse vírus, eu sou a prova disso. Não acham estranho que eu não tenha virado um deles, mesmo após ter sido mordida?

Os homens concordaram.

- E você acredita que algumas dessas vacinas possam estar dentro daquela maleta? - perguntou Franco. - Não só na maleta como em outros laboratórios camuflados. Esse cara louco, William, ele passou-se por um cientista vítima, e usou a mim e ao meu amigo para ajuda-lo a chegar até uma farmácia aparentemente comum, mas que servia apenas de fachada - havia esse elevador escondido que nos levou até o laboratório. Fomos ingênuos e Lucas acabou morrendo... acreditem em mim... - ela lembrou-se do rosto de Lucas e parou de falar. - Eu sinto muito pelo seu amigo. - disse Franco, percebendo no olhar dela o quanto ele era importante. - Eu acredito em você. É claro que isso tudo que você disse parece loucura, mas não tanto quanto a loucura que esta se passando lá fora. Aquelas coisas caminhando lá nas ruas é que são a verdadeira insanidade.

David fez um gesto com a cabeça, em concordância com oque Franco havia dito.

- Concordo, e querem saber de uma coisa? Eu acho que nós deveríamos pegar aquela maleta. Nós precisamos pega-la. - Negativo - interveio Franco -, é arriscado demais. Aquela rua esta cheia desses monstros, por isso mesmo que aquele sujeito fugiu sem conseguir pega-la. - Mas pense um pouco, nós...! - Esqueça filho! - Elias levantou-se - Eu não vou deixar você ir até lá, eu prometi ao seu pai que... - Isso já faz mais de seis anos tio, eu não sou mais um garoto! - David o interrompeu. - E não me chame de filho! - Por que se arriscar? Por que isso é tão importante pra você? - perguntou Franco.

David silenciou, perdeu as palavras. Elias respondeu por ele.

- Meu sobrinho neto se transformou numa dessas coisas, e David acha que pode cura-lo. - Eu sei que posso cura-lo, olhe pra ela! - apontou na direção de Jéssica. - Ela estava infectada, e agora foi mordida de novo e não se transformou! - A diferença é que ela estava viva quando aconteceu! Ela não havia se transformado em um desses monstros ambulantes! Você esta cego, você precisa entender, meu Deus do céu, David!... - Você pelo jeito não se importa mesmo! - Ele também é meu neto! Meu sobrinho neto! Não ouse dizer que eu não me importo! Eu apenas... eu...

David olhou para Franco e para Jéssica, que estavam calados. Jéssica cogitou falar alguma coisa, mas achou melhor não.

- Essa conversa não vai levar a nada tio Elias... se existe uma vacina antiviral, ninguém vai me impedir de ir atrás dela.

Elias não falou nada de imediato, até o momento que David deu as costas e começou a se afastar em passos largos.

- Se é assim, então eu vou com você.

David apenas parou por um segundo, sem dizer nada, então seguiu em frente; ele sabia que no fim das contas poderia contar com o tio.


PARTE 1
PARTE 2
PARTE 3

Conto escrito por Otávio Augusto Hoeser.
Mande seu conto para contosdomedo@gmail.com.

Sabine d'Alincourt