Série A CORRENTE:
(Leia Antes: Prólogo, Capítulos: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13)
Mas o hacker apavorou-se ao ver que o que estava segurando a porta era Leda, ou pelo menos parte dela.
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São 19 horas quando Plínio e Ingrid conseguem pegar Lídia em Andorinhas, local que poderia ter sido a sua sepultura, se não tivesse dado ouvidos à estranha e suave voz que previu sua desgraça.
– Entra, Lídia. – diz Plínio, destravando a porta traseira do carro deixando o seu cavalheirismo de lado. – Vamos ver o Roberto.
– Obrigada – retribui Lídia, entrando no veículo e mexendo no cabelo. Ao fazer isso, revela o ferimento na cabeça.
– O que foi isso? – indaga Plínio ao vê-la pelo retrovisor. – Roberto te bateu? Ele fez isso com você? Por que se ele fez, eu...
– Não! Quero dizer... Eu... – Lídia não sabe como responder e ajeita o cabelo, escondendo o ferimento.
– Deixa a menina, Plínio – reclama Ingrid, chegando a tocá-lo no ombro para contê-lo. – Vamos ter tempo para falar com Roberto e tirar tudo isso a limpo! Aquele cara vai pagar pelo que fez.
– Tá bom, Ingrid. Prometo me controlar, gatinha.
Lídia fica estática por segundos depois de Plínio dizer duas palavras que a fazem retroceder no tempo algumas horas, exatamente à manhã deste dia infernal. O momento em que explorou o correio eletrônico do ex-namorado e encontrou na pasta de Itens enviados os endereços de sete pessoas, entre eles o que acha ser o da garota sentada à sua frente.
– Ingrid.gatinha... – sussurra Lídia.
– Hein? – indaga Ingrid, olhando para a estátua pálida que é Lídia. – Você disse alguma coisa?
– Você é Ingrid.gatinha?
– Eu uso esse nick para o meu blog e e-mail. Como você sabe?
– Eu... – Lídia hesita.
– Fale logo, Líli. Tem a ver com Roberto, né? – questiona Plínio. – Se você sabe de algo, é melhor contar logo.
– Vocês não vão acreditar – afirma Lídia, incrédula.
– Depois do que eu vi hoje, Líli... Eu acredito até em político!
Roberto amarga a fase de recuperação no interior do centro médico, em um corredor que nada lembra a assepsia necessária para cuidar da saúde de seus usuários. Enfermos esperam atendimento no chão, alguns com soro, outros já dopados para esquecerem a dor. Roberto aguarda a remoção para um centro médico conveniado ao seu plano de saúde. Tem a esperança de que alguma alma caridosa – talvez seu irmão, já que a sua ex-namorada e ex-amiga não é mais confiável – venha lhe buscar.
Está deitado numa das poucas macas do corredor, recebendo soro. Ele olha para aquela gente sem perspectiva, esperando por socorro há horas, antes de cair sob os efeitos dos sedativos. Não demora muito para despertar e ver algo raro num hospital público: um corredor vazio. O lugar está limpo, como deveria ser. O hacker se sente estranhamente bem, e apesar da visão um pouco turva, tira o soro fixado na área superior de sua mão e levanta. O silêncio do local é intimidador. A brancura beira o sobrenatural e Roberto tem medo de tocar as paredes, observando-as atentamente até o fim do corredor, que leva à recepção do hospital.
– O que você está fazendo? – pergunta a enfermeira com ar de repreensão, mas sem agressividade, chegando à doçura. – Você não pode entrar ali sem ser chamado! Volte para o banco e aguarde, sim?
Sem saber o que fazer ou dizer, Roberto segue a orientação da mulher que carrega no olhar uma expressão familiar. Ao sentar, o hacker tem a oportunidade de observá-la e percebe que não só os olhos, mas tudo era paz na moça. Seu cabelo negro e liso, junto com sua pele morena, passava-lhe tranquilidade.
Ela atende ao telefone e em seguida parte pelo o corredor, passando por Roberto rapidamente, que a segue sem sentir seus passos, como se estivesse flutuando. A enfermeira dobra à esquerda e ele acompanha, conseguindo vê-la entrando no quarto 118.
Aproxima-se da porta entreaberta e ouve gritos de um homem desesperado. Roberto é dono de seu corpo novamente, a pulsão que o levara até ali terminara, deixando claro que a opção de entrar no quarto é exclusivamente dele.
E por sentir algo familiar, ele entra no quarto.
A cena é nervosa, caótica. A enfermeira que tinha se mostrado simpática parece uma leoa segurando uma garota esquelética aos berros na cama. Ao seu lado, um homem desesperado, é segurado por seguranças. É um velho conhecido dos pesadelos de Roberto.
– Mas ela me mandou fazer isso! Ela tem esse direito! EU TENHO ESSE DIREITO! – grita o homem, tentando se desvencilhar dos homens fora de forma, mas ainda aptos a segurar um velho desesperado.
– Jorge – constata Roberto, estranhando o fato de reconhecê-lo. Da última vez que o vira, era uma grande massa de carne tostada e raivosa lhe pedindo para falar mais baixo.
– O que você está fazendo aí parado? Acabe logo com isso, Roberto! Ela precisa ir embora!
– Q-quem precisa embora? – indaga o confuso Roberto. Ele se aproxima para tentar identificar a paciente, mas já imagina quem é.
– Ela, seu idiota! Ela vai acabar com todos se você não der um fim nisso!
Jorge é interrompido por um segurança, que lhe aplica um mata-leão. Roberto não compreende a agressividade com o velho, que é pressionado até perder a consciência. O hacker volta sua atenção para a paciente, agora mais calma, controlada pela enfermeira.
A menina esquálida olha para Roberto, com toda a tristeza possível de se transmitir na condição em que está. Ele já a viu encharcada de álcool e queimada, mas nunca com aquele olhar. Ela se comunica pela lágrima que deixa escapar.
– O que eu faço, Bruna? O que preciso fazer para você me deixar em paz?
A garota fala com ele, mas não com a voz habitual. É uma voz um pouco mais grossa, longe do tom de uma menina daquela idade e condições. Nada tem de feminina, aliás.
Demora, mas ele reconhece a voz do seu amigo Plínio.
– Quem é Bruna, Roberto? E que lista é essa que a Líli viu no seu computador?
Ao abrir os olhos, Roberto se depara com uma cena que não sabe se considera de todo ruim, mas com certeza não é boa: Lídia, Ingrid e Plínio estão olhando para ele. Ele, que até horas atrás podia chamar de amigo, agora segura a gola de sua camisa e despeja gotas de saliva ao falar perto de seu rosto, contendo-se para não socá-lo.
Roberto bem que gostaria de responder, mas a pessoa mais próxima da verdade neste momento é Jeremias, que lê a mensagem funesta que Bruna lhe enviou, contando um pouco de sua história. Ele a lê atentamente, encarando aquilo como uma brincadeira de muito mau gosto, assim como as que ele está acostumado a fazer.
Mas o texto tem suas peculiaridades. Ele se dirige a Jeremias, e não a Jason13. Além disso, a mensagem parece ter sido escrita exclusivamente para ele, mostrando que Bruna o conhece bem.
Eu sabia que você ia acabar lendo esta mensagem, Jeremias. Você ganhou alguns segundos de vida.
Meu nome é Bruna. Se você conhece alguma garota com esse nome, certamente não sou eu. Você nem chegou a me conhecer, mas deve ter ouvido histórias arrepiantes pela internet. Garanto que o que escrevo é tão verdadeiro quanto terrível.
É sobre uma pobre garota que morreu muito cedo. Seu pai, um professor, criava pombos por puro amor. A menina aprendeu a gostar daquelas aves também, passando boa parte do dia com elas, causando preocupação ao seu pai, que via sua filha isolada, sem amigos.
Então, aos oito anos, a menina foi acometida por uma doença. Dores, ínguas e inflamação indicaram que ela estava com toxoplasmose, devido ao seu contato frequente com os pombos. O pai a levou para o hospital, onde confirmaram a doença.
Mas o que o zeloso pai não podia prever é que a sua filha tinha uma doença rara, conhecida como Síndrome de Rett. A doença degenerativa estava em estado inicial, mas logo transformou aquela menina calada, porém aparentemente sadia, numa criatura sem controle de seu corpo.
O que você verá a seguir, meu caro Jeremias, é a mais crua narrativa de Bruna, a garota que escreve esta mensagem. Entre outros detalhes importantes, eu direi como vim parar em seu computador.
Jeremias deixa escapar uma ponta de sorriso. A história é boa e ele quase acredita. Mas seu semblante passa de alegre para frustrado ao notar que chegara ao parágrafo incompleto. Mesmo assim, ele tenta concluir a leitura.
Sei que você não acreditará nesta história, mas quando terminar de ler este texto, constatará a veracidade dela e se arrependerá, pois dependendo de sua escolha, você irá condenar você ou seus amigos.
Jeremias demora alguns segundos para perceber que o parágrafo incompleto não está mais do jeito que encontrou ao abrir a mensagem.
– Ei! O texto não terminava aqui! Ele era cortado na metade do parágrafo! Como pode?
Esse espanto é pequeno diante do que se segue: o cursor mostra que abaixo da parte do parágrafo onde a leitura se interrompia, um novo texto começa a ser criado. O ritmo de digitação é lento, como se cada letra implorasse pela seguinte, cada palavra por outra, para assim passar a mensagem para o apavorado Jeremias:
Assustado, Jeremias? Espera que ainda tem mais, seu espalhador de mitos de merda!
No hospital, Roberto enfrenta um novo pesadelo, ao ser pressionado por Ingrid, Plínio e Lídia. Ainda sob o efeito da anestesia, tenta articular seus pensamentos.
– De quem vocês estão falando?
– Não se faça de besta, Roberto! – grita Ingrid, segurando-o pela manga da camisa. – Meus pais estão mortos e você tem algo a ver com isso!
– Eu sei que os seus pais estão mortos. Bruna me contou.
Um tapa estalado acerta em cheio o rosto de Roberto. Ingrid nunca bateu em ninguém, mas também nunca teve um motivo tão forte. A violência é tanta que causa comoção nos enfermos presentes no corredor. Um mais exaltado grita pela polícia.
– Não! Polícia não! A polícia não pode me pegar! – Roberto começa a termer, em pânico. – Não deixem eles me pegarem!
Como não é do interesse de nenhum dos outros três ver a polícia, decidem ajudar Roberto. Retiram-no da maca e se afastam daquele corredor, procurando a saída do hospital. Porém, ao avistar a porta, também percebem dois policiais perambulando pela recepção.
Sem ter muita escolha, o grupo vai em direção a uma porta interditada, marcada com faixas cruzadas listradas em preto e amarelo. Roberto olha para o lado e se depara com uma garota esperando atendimento. Como já aconteceu antes, a moça lhe parece familiar. Ela usa uma faixa ensanguentada em torno do pescoço, tentando estancar o sangue de um ferimento grave. Seu rosto, assim como as suas roupas, também trazia muito sangue. Roberto acha estranha que tenha um o sorriso nos lábios.
– Essa parte do prédio está em reformas. Estarão seguros aí – diz a garota com uma voz gutural, sinal de que suas cordas vocais foram atingidas.
– Vocês ouviram isso?
– Ouvimos o quê? – questiona Plínio.
– Estão reformando essa parte do prédio, acho que estaremos seguros ali – Responde Roberto, apontando para a porta interditada.
– Então vamos. – Lídia empurra a porta e passa com cuidado pelas fitas.
Ingrid é a segunda a passar, seguida por Plínio. Este segura o braço de Roberto, que sente que o amigo não está o ajudando, mas sim impedindo-o de fugir.
Antes de entrar, Roberto se vira para agradecer à garota e percebe que a conhece. Claro que fica muito mais fácil quando ela se abaixa para ajeitar a sandália. A faixa solta e a cabeça dela cai, rolando para perto do hacker, para com o mesmo semblante que foi congelado pela eternidade pela câmera de circuito interno de uma vídeolocadora em Vila Velha:
– Leda! – Roberto grita, chamando a atenção para si. Com um puxão, Plínio faz Roberto entrar no corredor do prédio em reforma, onde crê que estarão em segurança. Roberto já não tem tanta certeza.
– Acho que cometemos um erro! – diz Roberto, acompanhando o grupo corredor adentro, já muito distante da entrada.
– Como assim, Roberto? Tem policiais lá fora, cara! – retruca Plínio, soltando o seu braço e indo em frente.
– Aquela menina era a Leda!
– Que menina, cara? – indaga Plínio.
– A que falou que isso daqui estava em reforma, Plínio! Com a faixa no pescoço!
– Você está ruim mesmo. Não ouvi nada de ninguém sobre essa área do prédio a não ser de você. Aliás, como você sabia?
– Como eu... Oh, meu Deus!
Roberto percebe que foi o único a ver e ouvir sua colega. Ao que parece, mais uma vez ele estava condenando as pessoas à sua volta. Depois de ter enviado a maldita corrente, levando-os para o matadouro.
– Gente! Temos que voltar! É uma armadilha! – grita Roberto correndo de volta pelo caminho que veio.
Os demais tratam de segui-lo, por medo ou por pensarem que ele queria fugir deles. Para alguém que chegara no hospital tão debilitado, ele corre muito bem, impulsionado pelo medo da morte. Quando se aproxima da porta por onde entraram, consegue vê-la parcialmente aberta. Na verdade, é apenas uma fresta, que deixa passar a luz pálida do hospital e murmúrios de dor e insatisfação dos enfermos. Sons tão agradáveis para Roberto, pois enquanto os ouve, ainda tem esperança de sair daquele lugar.
Toca na porta, pensando no que irá fazer se Leda ainda estiver ali. Sua hesitação dá tempo a seus amigos para se aproximarem, desejando impedi-lo de abrir a entrada.
O hacker força para abri-la, mas encontra resistência. Ele não imaginava que fosse tão pesada. Mas nota que não se trata somente do peso da madeira e que alguém do outro lado torce a maçaneta, mantendo a porta fechada.
Roberto controla-se para não gritar. Tenta puxar a porta e consegue. Agora, pode colocar a cabeça para fora e ver quem está fazendo isso.
– O que foi isso, Roberto! Quer nos entregar? – pergunta Plínio, encostando-se em seu ombro.
– A gente vai se ferrar se continuar aqui! Temos que pedir ajuda para sair!
Mas o hacker apavora-se ao ver que o que está segurando a passagem do outro lado é Leda. Seu corpo prende a maçaneta da porta com uma das mãos, enquanto a outra segura a cabeça à altura da cintura.
Rapidamente, Roberto se afasta, e o faz no tempo certo: Leda fecha a porta com uma força inimaginável, quase decepando o rapaz.
Plínio o segura, salvando-o de uma queda certa.
– O que houve, Roberto? – indaga.
– Leda está lá fora!
– Você não está enganado, cara? O nome não é Bruna?
– Não, Leda é a segunda garota na lista de mensagens – explica Lídia. – A segunda pessoa a morrer.
– Eu quero uma explicação agora, Roberto! – ordena Ingrid, enraivecida.
Roberto toma fôlego para falar, mas não chega a começar: uma luz se acende no fim do corredor, tomando-lhe a atenção. A iluminação repentina também é percebida pelos outros.
– Parece que tem mais alguém aqui – diz Lídia.
– Ótimo – afirma Ingrid. – Ele vai nos indicar uma saída para que possamos dar o fora.
– Acho que a Bruna está brincando conosco. Enquanto ficarmos aqui, nós não correremos perigo.
– O que essa tal de Bruna quer com a gente, Roberto? – pergunta Plínio.
A resposta é dada por uma voz graciosa de criança que ecoa pelas paredes do corredor, parecendo estar em todos os lugares.
– Por que você não pergunta a mim, Plínio?
No próxim capítulo:
– A Bruna! – grita Roberto, apontando para o fim do corredor. – Ela está lá!
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2 comentários:
Cara eu tenho 35Mb, não é que nao carrega. O site carrega sim, mas o tempo de carregamento fica muito alto gravei um vídeo da minha tela pra
http://youtu.be/QiKpbc_HzeM
mostrando para os incrédulos que é ridículo o tempo de carregamento do blog medob
depois que carrega fica beleza mas no começo demora muito tempo pra carregar. O antigo dono do blog sabia desse problema e se preocupava com isso a solução eh simples colocar no blog uma descrição do vídeo e colocar para o vídeo aparecer quando clicar em continue lendo.
Tah eu tenho que ser justo depois que postei o comentário e eu testei de novo desativando as extensões do chrome e melhorou bastante, mas ainda não está 100%
http://youtu.be/hV3aLFYhN0o
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