6 de junho de 2010

Histórias que nos Sangram - Geraldo de Fraga

Mais uma resenha por Mário Carneiro Jr.


HISTÓRIAS QUE NOS SANGRAM, de Geraldo de Fraga





Depois de três obras estrangeiras, é hora de falar de uma nacional. Um livro de contos que chamou minha atenção recentemente foi Histórias que nos Sangram (Editora Multifoco, 2009), do jornalista Geraldo de Fraga. O escritor optou por um caminho pouco seguro, ambientando suas histórias em Pernambuco (entre os anos 1694 e 1940) e utilizando suas lendas e acontecimentos como pano de fundo. Mas não pense que o autor utilizou suas pesquisas para nos dar aula de história! Não senhor, o objetivo maior foi alcançar uma ambientação de qualidade, hora situando seus contos na realidade do Recife de antigamente, hora dando a sua própria versão do nascimento de algumas lendas, sem se apegar com preciosismos desnecessários.

Outra armadilha da qual Geraldo escapa é o uso de descrições ou diálogos pomposos, típicos de autores iniciantes ao escrever histórias que se passam antigamente. A linguagem de Geraldo é ágil e direta ao ponto. Alguns leitores acostumados com descrições intermináveis podem até achar que a escrita é pouco detalhada, mas eu achei na medida: as tramas do escritor são simples (mas nunca simplórias!), então não há motivo para enrolar. Conforme disse Graciliano Ramos certa vez, “a palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer”. Geraldo conhece bem essa lição.

A antologia abre com a eficiente narrativa Sua Cabeça como um Troféu, passada em 1694 (os contos estão em ordem cronológica); aqui, um senhor de engenho ignora os avisos do traficante de escravos, insistindo em comprar um negro de aparência sinistra; não demora muito para que o homem se arrependa da compra, mas como negócio sujo não gera direito a reclamação no Procon, ele tenta resolver o problema com a gentileza típica dos donos de escravos. É, tem gente que não aprende.

Em Quem Ama Não tem Coração, temos uma história de piratas envolvidos com uma criatura lendária, uma espécie de “sereia” conhecida por suas aparições em Fernando de Noronha. O detalhe mais marcante do conto é o final, que me deixou aturdido durante alguns segundos antes de entender o que aconteceu. O autor não entrega tudo mastigadinho, então em alguns momentos, tive que botar os neurônios que a cerveja não matou para funcionar, he he he. Enfim, continho bom da porra, sô!

Os Dentes dos Mortos foi o conto que achei mais fraco, embora a situação histórica (a preparação para a Revolução Pernambucana de 6 de março de 1817, também conhecida como A Revolução dos Padres) seja até interessante. Não conheço a lenda que Geraldo de Fraga inseriu no meio dos acontecimentos, mas o que me veio à cabeça foi um detalhe do filme Piratas do Caribe... Só lendo para você entender. Acho que faltou alguma coisa nesse aqui.

A história Onde as Almas esperam sua Vez é, de longe, a melhor do livro. É uma das que causam arrepios legítimos, ainda mais por tratar do tema que tem bastante potencial para apavorar: fantasmas! No caso, uma criança arruma estranhos amiguinhos na Praça Chora Menino, cuja lenda nasceu após o conflito militar da “Setembrizada”. Conflitos desse tipo geram mortes de inocentes, e alguns mortos não conseguem se conformar com injustiças... Uma excelente história de assombrações, que vai deixar você com um frio na espinha após o elegante desfecho.

O conto Levo Comigo Apenas o que Mereço também é muito bom, apresentando as desventuras de um desocupado e um proprietário de mercearia, que resolvem procurar uma botija enterrada numa casa abandonada. Para quem não conhece a lenda, vou resumir: dizia-se antigamente que os ricaços enterravam sua riqueza em botijas, e depois acabavam morrendo sem nunca contar a localização desses tesouros; a partir daí, as almas desses senhores não descansavam em paz enquanto não revelassem a localização do ouro para alguém... Alguém com coragem suficiente para ir lá desenterrar, hauaha. O melhor nessa história é o clima assustador e inquietante, com os dois coitados circulando pelos corredores escuros de uma casa assombrada, munidos apenas de um lampião para afastar o escuro. Este é o segundo melhor conto, com uma reviravolta bem interessante como bônus.

O conto Fome apresenta a origem de um mito conhecido do Recife (origem imaginada pelo escritor, é claro), uma espécie de “bicho-papão” usado para assustar as crianças. Qualquer detalhe seria spoiler (já que a identidade da criatura é mantida em suspense), então basta dizer que é um conto legalzinho. Não me empolgou muito, mas funciona em seus detalhes macabros.

Por fim, A Lua Cobra seu Preço é a história menos regionalista do livro, considerando que a lenda abordada está presente em todos os estados brasileiros (e em muitos outros países também). Não vou contar por que... Ah, que se dane, já fiz muito suspense! Esse é um conto sobre lobisomens! E dos bons!

Concluindo, Geraldo de Fraga se saiu muito bem em seu primeiro livro. Ao invés de escrever contos passados nos dias de hoje (é muito mais fácil escrever sobre a realidade em que se vive), o autor caprichou na pesquisa para trazer um legítimo panorama do Recife histórico, mas sem cair na chatice dos livros que você foi obrigado a ler no colegial. São contos que divertem e assustam, em uma obra que se lê de uma vez só (e você ainda pode pagar de intelectual pros amigos, dizendo que acabou de ler “um livro com histórias regionais de Pernambuco”! Rsrsrs).

E por enquanto é isso. Abraços, boa leitura!


Lembrando que hoje é o lançamento lá do livro ZUMBIS, com um conto do Mário. E ele prometeu nos comentários que vai pagar uma cerveja ao primeiro que falar que viu o anuncio aqui no MEDO B :D Aos outros podem pedir cartões do MEDO B pra ele que ele tem alguns ainda ok ?

Bons Pesadelos...

10 comentários:

Luh disse...

Primeiraa!! Quero muito ler esse livro, afinal, nasci em Pernambuco ;D Ótimo post!

Gisele disse...

parece ser um bom livro. Ótima resenha.

Bieeeuh disse...

Parece muito bom
Ótimo Post.

Anônimo disse...

horrivel

ctr disse...

parece ser bem legal,e e um livro que sai daquela velha frase:era uma veis... so tenho uma critica o nome do livro devia ser melhor
exemplo: as lendas do jornal nacional,ou algo assim...mas o livro e legal

Ge de George disse...

MINHA TERRA ! =D

Lili Willis disse...

Ebaaa!!!onde posso comprar?
não toh achando...

Mario Carneiro Jr. disse...

Lili Willis, você pode comprar por aqui:

http://www.editoramultifoco.com.br/catalogo2.asp?lv=122

Ou se preferir, fala com ele pelo twitter e pede autografado:

http://twitter.com/geraldodefraga

(Mas aqui vai uma sugestão... se quiser com dedicatória, lembre o autor umas duas ou três vezes de fazer a dedicatória! Do meu, ele esqueceu de fazer, hauahau!)

Abraços!

Medo B. disse...

Mário
Tu é feio poo
A Lili ele vai lembrar

hahahahahahhaha brincadeira :P

Mario Carneiro Jr. disse...

É bem provável, Medo! Rsrsrs