A Escolha dos Condenados
Os dois prisioneiros foram escoltados até um estranho e luxuoso salão, onde diversas portas aguardavam fechadas. O rei e seus súditos esperavam com ansiedade, enquanto eram servidos de vinhos exóticos. A cada um dos cativos, eram concedidos os seguintes direitos: fazer uma pergunta ao oráculo, que teria que dizer a verdade, e escolher uma das portas, onde suas sentenças de morte seriam executadas de imediato.
- Qual das passagens me trará menor dor? – questionou um dos condenados, sob murmúrios de aprovação da platéia. O velho posicionado sobre um tablado apontou:
- A terceira.
O preso respirou fundo e puxou o trinco, apenas para ser carbonizado pelas chamas que saíram lá de dentro. Gritou e caiu no piso de mármore, contorcendo-se com agonia atroz e abrasadora. O fogo se apagou e ele ficou lá deitado, gemendo como um cão recém-nascido. Levou vários minutos para morrer.
- Desgraçado, porque você mentiu?! – perguntou o outro condenado, com revolta.
- Não menti – disse calmamente o oráculo, provocando uma palidez extrema no rosto do cativo. – Agora escolha sua porta.
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A Galeria dos Sonhadores Perdidos
Vou contar um pesadelo que tive quando era criança. Não parece um típico sonho infantil, mas também, nunca fui uma criança típica. Então, não duvide.
Andava sozinho de madrugada pelas ruas de uma cidade, sob a vigília de imensos edifícios que faziam eu me sentir diminuto. Tinha medo dos mendigos que dormiam na frente das lojas, cadáveres em suas mortalhas de jornal. Apertei o passo como se tivesse algum lugar para ir, mesmo sabendo que estava perdido naquele labirinto de pesadelo.
Encontrava-me no meio da quadra quando um grupo de jovens apareceu. Gritavam insultos e davam socos nos braços um do outro, chutando placas e marquises fechadas. De forma discreta – ou ao menos, da forma mais discreta possível quando se é a única outra pessoa na rua – caminhei para a calçada oposta, torcendo para não ser notado.
Fui.
Um deles olhou para mim e disse para tomar cuidado. Isso não era tão ruim, mas em seguida eles correram em minha direção.
Entrei na primeira porta que vi aberta e lá dentro era um corredor sem luz. Olhei para trás e havia uma praia ensolarada, todavia preferi caminhar rumo às trevas.
Após alguns passos, percebi alguma iluminação lá na frente. Luzes mortiças sobre quadros estranhos e belos, com rostos e corpos em posições anormais. Eram centenas, mesmo assim fui conferindo um a um, tentando decifrar padrões indecifráveis que pareciam diferentes cada vez que olhava. Era inquietante, mas o sonho me obrigava a continuar.
Então, vi que não estava sozinho ali dentro. Um vulto encarava a última pintura do corredor, uma obra que ia até o teto. O sujeito balançava lentamente para os lados, como se estivesse com dor, e suas feições estavam cobertas pelas sombras. Após alguma hesitação, aproximei-me.
O quadro mostrava um ser humano visto de frente, pernas e braços abertos igual numa pintura de Leonardo da Vinci. Seu olhar era o vazio da casca de uma criatura devorada. A boca jazia num grito congelado, como se tivesse percebido que jamais conseguiria sair de sua prisão de tinta e moldura.
Prestei atenção e percebi que o homem na tela estava esticado, além de estar em alto relevo. Hipnotizado, estiquei os dedos em direção ao quadro – não sem antes olhar para meu silencioso companheiro, esperando uma repreensão que não veio – e toquei no tornozelo da pintura. Mesmo sendo um sonho, senti uma textura de epiderme humana.
Afastei meus dedos e constatei, apavorado, que estavam vermelhos.
- Gostou do quadro? – perguntou o sujeito ao meu lado. As luzes se acenderam, permitindo que eu visse seu rosto de osso e músculos, sem qualquer pele cobrindo o sorriso de caveira.
- Fui eu que fiz - afirmou a coisa, rindo de satisfação.
Acordei em minha cama, suado e trêmulo. Só não chamei meus pais por vegonha.
Desde então, procurei não me perder de novo.
Mas até quando vou conseguir?
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Esses foram 2 contos do escritor brasileiro Mário Carneiro Jr. Já postei aqui outro conto dele que fez muito sucesso chamado "O Lençol"
Quem gostou visite o blog dele, lá tem outros contos - A Lua Mortal
Bons Pesadelos...
18 comentários:
First, agora vou ler '-'
Gostei principalmente do 1° conto ! =D
o primeiro conto me deu medo .-.
Muito bons, vou ver o blog dele agora!
o 1º conto é muito louco
Eu não queria estar na pele daquele prisioneiro rs rs rsrs
O 2º deu mais medo, principalmente porque meus pesadelos geralmente são assim o-o
poxa muito bom medo b quam quiser da uma olhada la no me blog ta aqui
http://alfa-medoavolta.blogspot.com/
isso ai medo b
tbm é de terror
;D
Nuuuuuuuuuussss!! Oo"
O primeiro conto foi otimo: "seu desgraçado, pq vc mentiu? - Eu não menti..." FAIL!! ehehuehuehueuhe esse prisioneiro vai amargar, coitado!
O segundo também foi muito bom, tirar sua própria pele pra fazer uma obra de arte (??) é muita loucura!! hehuehuehuehu
Parabéns aos contos! Li o do lençol tb! Tenso, mas muito bom!
Os dois são ótimos,principalmente o primeiro. Esse prisioneiro vai ter um fim horrivel o.o
Só depois de ler os comentários que percebi que o cara do segundo conto usou a própria pele pra fazer o quadro, credo
Poxa tio Medo, eu sou orfão cultural, não gosto muito de leituras em geral e sem sensacionalismo, imagem, sangue ou bizarrices, pra mim não é matéria, é só leitura, e leitura sem matéria é livro e livro na internet é e-book, né Tio João? Quero algo que me mantenha acordado à noite, sem coragem de ir pro quarto dormir, assim eu fico mais tempo acordado trabalhando. Abraços!
Ps. Anyway, as histórias são boas!
Apesar de que as vezes encontrar contos muito mais assustadores por aí na internet, esses são legais...
Qualquer hora envio para o Medo B.
Posta mais, posta mais *-*
WOW deu medo o do lençol (...)''Aconteceu quando eu tinha mais ou menos sua idade, uns doze anos, quase treze'' e.e eu tenho doze anos vo fazer treze esse ano como ele soube? :B
MUITO FODA!
Ja logo Favoritei o Blog dele
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Terei muitas noites sem domir agora!
KYUHEUHEUHE
Nao entendi o final de nenhum dos dois . Como assim o cara se perdeu?
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