22 de janeiro de 2013

Zé do Caixão - 50 anos do seu PESADELO


 Com a cabeça lotada de planos para viabilizar um projeto de longa-metragem batizado de “Sete ventres para o demônio”, José Mojica Marins já não guarda mais o dia exato em que, há 50 anos, sonhou estar sendo arrastado para uma cova por um homem todo de preto. Sabe apenas que foi em 1963 — “Por esta época, comecinho de ano”, lembra o diretor — e que o tal homem viria a se tornar um dos mais famosos personagens da história do terror: o coveiro Josefel Zanatas, conhecido (e temido) pela alcunha de Zé do Caixão. Parte da história de sua criação naquele ano pode ser acompanhada a partir desta terça-feira, à 0h15m, no Canal Brasil, numa retrospectiva da carreira de Mojica, com dez dos filmes mais célebres de seu exu de unha grande. Para a abertura, a mostra — que segue até 26 de março, apenas às terças — reservou “À meia-noite levarei sua alma” (1964), o primeiro longa do vilão.

— No pesadelo que tive há 50 anos, o homem de preto tinha o meu rosto. Acordei com a ideia do Zé do Caixão definida e comecei a correr atrás de sobras de negativo em estúdios como a Vera Cruz e a Maristela para poder filmar uma história em que aquele homem procurava a mulher ideal para ser a mãe de seu filho — conta Mojica, que batizou o personagem em referência a um coveiro amigo. — O nome Josefel veio de um cara que eu conhecia e que mexia com defuntos, um agente funerário chamado Josef. Zanatas era brincadeira com Satanás.

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Uma outra parte da saga de Zé do Caixão, mais detalhada, será contada no filme “Maldito!”, cinebiografia de Mojica (e de seu alter ego satânico) baseada no livro homônimo de André Barcinski e Ivan Finotti, com Matheus Nachtergaele no papel principal. O projeto é do diretor Vítor Mafra, que corre à cata de um produtor a fim de viabilizá-lo a tempo das comemorações do cinquentenário do personagem.

— Minha expectativa é trazer à tona a genialidade e a ousadia da pessoa por trás desse mito vivo que é o Zé do Caixão — diz Mafra, que preparou o roteiro de “Maldito” com Barcinski.

Alguns causos que cercam a criação do personagem até Mojica considera folclóricos.

— Falam essa coisa do “maldito”, e eu, que não acredito no diabo, mas creio em Deus, confesso ter o pé atrás com coisas místicas. O Zé apareceu num período em que eu estava abalado com um projeto difícil de tirar do papel, que acabei não fazendo, chamado “A sentença de Deus”. Uma atriz que chamei para fazer o filme morreu afogada antes de filmarmos. Chamei outra, que também se afogou. Com a terceira, ia tudo bem, até que ela, vindo do Paraná para filmar comigo, sofreu um desastre de ônibus e perdeu uma perna. Alguma coisa tinha ali — desconfia Mojica.

Aos 77 anos, ele vai rodar o país com uma série de workshops sobre terror e interpretação (os locais ainda não foram divulgados) em comemoração ao jubileu de sua criação mais célebre. Ao mesmo tempo, com o apoio do cineasta e produtor Eugênio Puppo (responsável pelo resgate de pérolas do cinema marginal dos anos 1960 e 70), Mojica prepara o lançamento de um filme inédito, que rodou em 1980: “A praga”, concebido originalmente como um média-metragem e depois ampliado em mais de uma hora. Na trama, um homem é amaldiçoado por uma bruxa (vivida pela atriz Wanda Cosmo) e desenvolve uma chaga que se alastra por seu abdômen. O detalhe: graças à maldição, a ferida tem de ser alimentada com carne vermelha, de preferência, humana. Mojica tentou durante duas décadas finalizar o projeto, que não estava sonorizado, mas não conseguiu. Com a ajuda de Puppo, ele filmou as cenas que faltavam e agora se prepara para levar a produção ao público até o segundo semestre.

— “A praga” foi iniciado há mais de 30 anos, no tempo da ditadura ainda, mas só conseguimos terminá-lo há pouco. Eu acredito que ainda tenha espaço para ele, pois tudo o que desperta curiosidade atrai público — diz Mojica, que, de acordo com os anuários do extinto Instituto Nacional do Cinema (INC), vendeu cerca de 600 mil ingressos com “À meia-noite...” e o mesmo com sua sequência, “Esta noite encarnarei no teu cadáver”, lançada em 1966.

Só o último filme do personagem, “Encarnação do demônio” (2008), ficou aquém do esperado: somou apenas 25.762 pagantes.

— Peguei censura alta, o que afastou os adolescentes, meus maiores fãs — justifica-se.

Nem todo longa que Mojica dirigiu, numa carreira iniciada com “Sina de aventureiro” (1957), teve Zé do Caixão em cena, a começar pelo maior sucesso do cineasta, a comédia “A virgem e o machão”, vista por 1,3 milhão de brasileiros em 1974. Mesmo assim, foi no papel do coveiro que ele se consagrou, inclusive nos EUA, onde ganhou retrospectiva no Festival de Sundance de 2001 e é conhecido como Coffin Joe.

— Eu não tenho medo da morte, mas tenho medo do dia seguinte, pois tenho sete filhos e 11 netos. Tenho que trabalhar — diz. — E ainda desejo fazer um documentário com meus filmes inacabados. Sigo tentando.


Matéria: O Globo
Bons Pesadelos...

12 comentários:

O Coveiro disse...

Grande Mojica, espero um dia ainda conhece-lo.

O Coveiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Raven Deschain disse...

É feio mesmo esse negócio da censura. O cara que cuida disso é um retardado. Quando fui ver Ted fiquei impressionada de ver que censura, aqui em Curitiba pelo menos, era 10 anos. Nunca deixaria meu filho de 10 ver aquele filme. E a Encarnação do Demônio podia sim ter pego uma idade menor.

Arthur Tavares disse...

Por que vc mudou para RavenClaw, Ravenna?

Guto disse...

eu admiro o mojica, mas não sou um grande fã do seu trabalho.
acho muito legal, no entanto, ter um brasileiro impulsionando o setor! espero que busquem inspiração no seu gênero para produzirem mais obras nacionais...

depois de ver o cinema nacional se arriscando em alguns outros gêneros, porque não esperar alguma surpresa no terror?

argentina e espanha já mostraram que para um bom filme de terror não é necessário um super orçamento... quem sabe!

Raven Deschain disse...

Eu gosto de Harry Potter. =P
Ah é que em outro tópico disseram que tem uma blogueira que usa o mesmo nick. Mudei pra quando forem procurar ela não me acharem, pq aposto que somos bem diferentes uma da outra. XD

Unknown disse...

Adorava quando ele apresentava o Cine Trash. " A praga do dia." LOL Realmente estamos carentes de filmes do gênero terror.

Vladimir Kowalsky disse...

Oi, sou do Crepepasta Brasil. Estou passando por aqui para divulgar o meu blog http: //crepepastabrasil.blogspot.com que faz paródias de creepypastas. Também gostaria de pedir ao blog Medo B se quer uma parceria com meu blog? Desde já obg e responde por favor.

Bruswt disse...

Ele é um gênio! Só isso que tenho para falar à respeito dele.

Trovão! disse...

Eu fui numa apresetação del em Londrina-Pr ele jogou uma maldição em todos,foi divertido. o cara manja!

danilo matanza disse...

MESTRE !!

Daniella disse...

E onde está o sorteio do "Meu namorado é um zumbi" que ia rolar dia 17? Rolou? Quem foram os ganhadores?