4 de setembro de 2014

Corpo




O testemunho a seguir foi enviado a mim recentemente por um velho amigo. Eu não ouvi falar dele desde então, mas espero que ele esteja bem.

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Como você deve saber, eu estou em treinamento para ser um juiz. Minha formação estava quase completa e eu estava trabalhando num estágio remunerado como um médico legista bem conhecido na área de Washington. Tudo isso mudou algumas horas atrás, quando fui demitido do cargo por me recusar a participar no que eu acredito ser um acobertamento. Mesmo que tenha sido alertado sobre as "consequências" se vazasse quaisquer informações sobre este caso, a minha consciência não ficaria bem se eu ficasse quieto. Isso é algo que as pessoas precisam saber.

Há alguns dias recebemos um telefonema da polícia do Metro sobre um possível corpo descoberto na linha vermelha. Desde que comecei a trabalhar como legista, temos respondido a algumas chamadas no sistema de metrô. A primeira vez foi uma mulher que tropeçou em uma mala de alguém ao tentar ultrapassa-la nas escadas rolantes. Ela acabou com o pescoço quebrado. Duas vezes fomos chamados por um ataque cardíaco. E uma vez para um assalto tarde da noite. O pobre rapaz foi esfaqueado várias vezes no estômago, mesmo ele tendo entregado o relógio e carteira para o assaltante. Até agora eu não vi nada especificamente sangrento e foi um pouco de decepcionante quando disseram que era apenas um homem caído no trem. É errado desejar ser chamado a um caso que alguém foi empurrado nos trilhos do trem?

Enfim, quando chegamos, os paramédicos já estavam em cena, então nós achamos que era apenas um desentendimento e fomos chamados para fora prematuramente. Mas a fita da polícia bloqueou toda a plataforma da estação. Do nosso ponto de vista no topo das escadas rolantes poderíamos dizer que algo não estava certo. Os paramédicos do lado de fora da porta do carro do trem e eles não estavam realmente fazendo nada, exceto discutindo e apontando para um corpo caído contra uma janela dentro. Poderíamos ter ido embora, mas decidimos dar uma olhada de qualquer jeito só para ver o que estava acontecendo.

Quando nos aproximamos, ouvi um pouco da conversa entre os dois paramédicos. "Ele está morto, não é?", Disse o mais velho dos dois. "Sim, mas os mortos não fazem... isso." Fazer o quê? Eu pensei. Uma vez que eles nos viram, eles rapidamente concordaram que o homem estava morto e logo saiu de cena para nós analisarmos. É evidente que esta não era uma chamada que eles queriam lidar; Eu podia sentir isso.

A polícia também não era de muita ajuda. Eu conversei com os policiais na cena enquanto o Doc entrou para dar uma olhada no homem no trem. Um dos detetives comentou que não havia sinais de assassinato. Todas as testemunhas afirmaram que o cara simplesmente sentou-se como todos os outros e em seguida, parou de respirar. Causas naturais, pensei, parecia só mais um caso seco, mas quando olhei por cima do meu ombro para o Doc, ele parecia... Confuso.

- Olhe para isso - disse ele para mim quando eu entrei no vagão. Ao me aproximar, parecia que o homem estava dormindo, como qualquer passageiro faz quando sabem sua parada ainda não esta perto.

- Olhar para o que? - Perguntei.

- Os olhos.

A cabeça do homem estava para frente, com o queixo no peito, de modo que eu tinha de me ajoelhar para conseguir uma boa olhada em seu rosto. Quando fiz isso, o Doc começou a falar alto consigo mesmo, como ele costuma fazer, apenas repassando sua lista mental.

- Ele não respira, não tem pulso e sua pele esta gelada. O tempo aproximado da morte: 6 a 8 horas atrás.

Estou no corredor do trem, tentando fazer uma analise com uma lanterna pino já que a pouca iluminação no trem não estava ajudando muito as coisas. Os olhos do homem estavam abertos e eles pareciam estar olhando para mim. Não é raro, por isso, eu me inclino mais perto na esperança de descobrir o que é o Doc queria que eu visse, de modo que eu não parece um idiota e então... O cadáver piscou.

Eu dei um salto para trás tão rápido quanto um mangusto pularia para se afastar de uma cobra.

- Mas que porra é essa? - Eu tentei dizer.

- Exatamente - disse o Doc.

- Tem que ser apenas um espasmo muscular, certo?

- Eu também pensei nisso – diz ele – Mas veja isso – Ele pega o cara pelo cabelo e puxa a cabeça para trás. Com a outra mão ele acena um dedo na frente dos olhos abertos do homem, que, em seguida, começaram a acompanhar como o Doc move o dedo para a esquerda e para a direita. Então o homem olhou para mim e piscou novamente.

- Você já viu algo assim antes? -Eu pergunto.

- Não.

- E ele está morto?

- Morto como uma porta.

Deixamos o oficial encarregado sabemos que não foi possível determinar a causa da morte no local. Uma necropsia completa teria que ser feita para fazer qualquer tipo de determinação. Ela fez uma nota no relatório que este corpo tinha uma tendência a segui-lo com seus olhos e ocasionalmente piscar. Extraoficialmente, ela me contou que o caso inteiro o incomodava. O homem, segundo ele, não tinha qualquer identificação, cartões de crédito, relógios, joias, um telefone ou até mesmo dinheiro. Tudo o que eles descobriram sobre ele foi um bilhete de metrô e um guardanapo em seu bolso.

Uma vez que estávamos de volta no escritório, nós vestimos os macacões de exame, e fui responsável em despi-lo. O cadáver me olhava o tempo todo enquanto eu tirava seu terno. Ele até piscou para mim uma vez. Além disso, algumas coisas estranhas foram observadas sobre o vestuário. Primeiro, ele não estava usando roupas íntimas. Normalmente as pessoas usam uma camiseta, boxers ou cuecas e meias. Esse cara não usava nenhuma dessas coisas, mas por alguma razão, ele tinha em dois cintos, um sobre o outro.

O Doc ligou o gravador e em seguida, ligou a serra circular. Eu vi como realizou incisão, e eu fiz uma nota mental de sua técnica perfeita para que eu pudesse tentar fazer melhor da próxima vez. Eu estou lhe dizendo, o Doc é um verdadeiro artista. Em seguida veio o agradável som de estalo quando a caixa torácica foi arrombada. Enquanto isso acontecia, os olhos do homem nos observavam. Eu quase podia jurar que ele estava sorrindo, também.

Durante a hora seguinte, o Doc fez anotações do exame. Ele me entregou cada órgão para ser pesado e catalogado. Não havia nada de estranho ou fora do comum sobre qualquer um dos órgãos internos.

- Tudo bem – disse o doutor – agora vamos dar uma olhada em sua cabeça. Eu quero ver o que está causando o movimento dos olhos.

- Você se importa se eu vendar os olhos dele?

Tentei permanecer tão profissional quanto pude, mas o piscar constante me enervava. O Doc autorizou, por isso, tomei um pouco de fita de sutura e trabalhei até a coragem de fechar manualmente as pálpebras do cara. Imediatamente ele começou a se mover. Todo o seu rosto estava convulsionando e contorcendo-se, tentando se libertar da fita.

- Acho que ele não gostou da ideia – disse Doc e então ele tirou a fita os olhos do homem. Os movimentos violentos pararam imediatamente e o homem piscou para o Doc.

- Isso não é normal! – eu disse.

- Há uma razão científica para tudo. É o nosso trabalho para encontrá-lo – Doc respondeu.

- Mas ele estava lutando para tirar a fita dos olhos!

- Eu acho que ele quer ver. Agora que você deseja remover o crânio, ou quer que eu faça?

Estou muito abalado para lidar com o equipamento, assim acho melhor apenas ver como o Doc usa a serra em torno de crânio do homem. O bastardo ainda está sorrindo. Eu tenho certeza disso. Ele está olhando para mim e piscando seu olho esquerdo, depois de seu olho direito. Eu ouço o som de estalo familiarizado causado pelo topo de um crânio que está sendo puxado para fora.

- Whoa. Okay... - diz o doutor.

- O que é isso? – Pergunto enquanto ando ao redor para ver o que ele está vendo. Os olhos do homem me seguem, é claro.

- Acho que você deve ver isso.

Oh meu Deus!

Não tem nenhum cérebro!

- Doc? - Eu pergunto.

- Agora não. Arrume suas coisas e vá para sua casa. Vou terminar de limpar isso. - Ele disse isso enquanto disca um número no telefone.

- Mas...

- Vá logo! Eu ligo para você mais tarde. - Isso não foi pedido, foi uma ordem. Eu faço o meu caminho até a porta, sabendo que o homem ainda está olhando para mim. - E não diga nada a ninguém.

O Doc nunca me ligou de volta. Cada vez que eu tentava contato, caia na caixa postal. Tentei voltar no dia seguinte; mas o segurança não me deixou no prédio. Disseram que eu era para aguardar novas instruções, e que eu receberia licença remunerada.

Isso foi há quatro dias.

Esta manhã eu ouvi uma batida na minha porta. Era um homem que disse que ele estava no escritório do médico legista, mas parece que ele trabalha com a CIA, FBI, NSA, ou alguma outra agência de três letras. Ele perguntou se poderia entrar para conversar. Eu abri a porta para deixá-lo entrar e quando fiz, notei que havia dois homens vestidos de forma semelhante sentado em um carro preto do outro lado da rua.

Em sua pasta havia o arquivo do caso para o John Doe que foi encontrado no trem. Todas as notas sobre o movimento dos olhos e piscadas foram removidas. Não houve menção de qualquer coisa fora do comum, muito menos um cérebro ausente. Esse arquivo já tem a assinatura do Doc e este homem está pedindo para eu assiná-lo também.

Eu tento dizer a ele o arquivo está errado, mas ele levanta a mão para me impedir de falar. - Esta é a forma que isso aconteceu. Agora o assine – disse ele.

Eu pergunto sobre o Doc. Eu quero saber por que eu não tenho notícias dele. Ele diz que o Doc "se foi" A forma como ele disse isso me fez pensar o pior. Eu me recuso a assiná-lo e peço para falar com o diretor do escritório do médico legista. O homem me informa que seria impossível e que eu seria demitido. Mas demitido não é a palavra que ele usou. A palavra que ele usou foi "executado".

Ele saiu quando eu pedir-lhe para ir embora, mas ele me avisa para não mencionar isto a ninguém ou teria consequências graves. Assim que a porta se fechou atrás dele, eu arrumei uma mochila e sai. Vi que um carro preto estava estacionado no final da minha rua, e eu só poderia ser paranoico. Para me certificar de que não estava sendo seguido, eu mudei de direção várias vezes. Quando eu me senti seguro o suficiente, eu entrei em um bairro residencial próximo e encontrou um sinal de Wi-Fi livre.

Acho que algo estranho está acontecendo aqui em Washington, talvez em outros lugares também. Eu não sei o que poderia ser, mas eu sinto que o Doc e eu vimos algo que não era para sabermos, e agora estamos em perigo. Encontrei número de casa do Doc. Quando liguei para ele foi direto para o correio de voz. Tentei deixar uma mensagem para ele, mas a linha ficou muda depois que eu comecei a falar. Se alguém está monitorando meus telefonemas, é possível que meu carro esteja grampeado também, e eles já sabem exatamente onde estou.

Mais uma vez, talvez eu seja apenas paranoico - ou louco. Talvez haja uma explicação completamente lógico para o cadáver espantalho que olha, pisca e sorri. Eu não posso imaginar como algo assim poderia existir ou por que existiria. Estou com medo; muito, muito medo. Eu decidi que a única coisa a fazer seria escrever isso e enviá-lo a todas as pessoas que eu conheço. Espero que esta informação chegue a alguém.

Se você recebeu este email e não receber outro e-mail meu até amanhã, então eu provavelmente estou morto e você saberá que o que eu escrevi é verdade.



Bons Pesadelos...

11 comentários:

Douglas disse...

wow, muito bom!!

Unknown disse...

Legal '^'

Unknown disse...

Faz tempo que não lia um tão bom...

she girl disse...

caralho que bizarro, muito bom

Marina Akemi disse...

Só acréscimo/correção: "John Doe" pode ser traduzido como "fulano" ou "Zé Ninguém" do nosso português! Acho que caberia no contexto. ^^
Fora isso... Que angustiante! Fiquei imaginando os olhos seguindo o cara... @.@

Unknown disse...

MASOQ

Larissa F. disse...

Essa eu gostei Medo B ; D

Unknown disse...

muito foda mano

death'avenger disse...

Mt show *-*

biia disse...

Essa imagem é de um vídeo do Marilyn Manson xD

Unknown disse...

Eu sou auxiliar de necropsia, e me imaginei no lugar dele, tenso isso.